quarta-feira, 30 de junho de 2010

501 Must-Read Books - Book Journal

Então, como todo mundo (ou quase todo mundo) sabe, as editoras estão no momento fazendo vários livros de listas de produtos culturais que teríamos que consumir: livros, filmes, álbuns. Claro que não são listas puras e simples, mas cada indicação tem uma resenha de um especialista dizendo porque tal é essencial conhecer tal obra. A princípio, tudo contra esses livros. Primeiro porque são europeus/norte-americanos, o que garante um privilégio na escolha de obras realizadas no dito Primeiro Mundo. Ainda tenho uma segunda objeção: não acho que nenhuma, mas nenhuma obra mesmo, seja de consumo obrigatório - mesmo os clássicos "universais". Ninguém é obrigado a ouvir, ler ou assistir nada somente porque aquilo é considerado um clássico. Aliás, a melhor forma de se afastar alguém de uma leitura (eu pelo menos) é dizer que a pessoa é obrigada a ler algo para ser considerada isso ou aquilo. Leio, vejo, ouço se tiver vontade, simples assim. Se for um clássico, legal. Se for uma obra boba e recente, idem. O que mais me importa é se eu gostei/me diverti. Mas se alguém que me presenteie quiser me dar um desses livros/listas de presente eu nem vou me queixar. Só não vou gastar meu rico dinheirinho.

Enfim, todo esse preâmbulo para resenhar outra coisa: um Book Journal (caderninho de anotação sobre o que lemos, emprestamos, etc) baseado num desses livros: o 501 Must-Read Books - que eu não tenho, aliás. Comprei o Book Journal na Livraria da Travessa um dia qualquer esse ano e deixei encostado, sempre me prometendo que ia inaugurar o dito cujo, o que fiz hoje (com resenha do livro Conhecendo o Islamismo - próximo post aliás). Tendo feito o meu primeiro uso efetivo dele, resolvi propagandear e resenhar. 

O caderno é dividido em cinco partes: lugar pra resenhar os livros lidos (em que aparecem capas de livros clássicos e pequenas informações curiosas), lista de livros emprestados, lista de livros que pegou emprestado, lista de livros que quer ler, a lista dos 501 livros listados no livro que originou o Book Journal. Fiquei encantada quando vi essas sessões na livraria, um caderno sob medida para organizar as, leituras, os livros e ainda com dicas. É realmente uma boa idéia. Vamos então às críticas: só tem espaço para míseras 57 resenhas, o que é bem pouco para quem tem hábito de leitura. Só nesse ano já li uns18 livros, e estamos na metade do ano. A continuar nesse ritmo, vou ler uns quase quarenta em 2010, o que mata o espaço de resenhas do caderninho em menos de dois anos. Se em torno de dois anos o espaço para resenhas vai acabar, o mesmo não vai acontecer com os espaços de organização da coleção: livros emprestados e pegos com outros, livros que quero ler. Essas listas são enormes, e certamente vão ser fonte de organização por bastante tempo.No final do caderno, a lista dos 501 livros, com quadradinho para checar se já leu (até agora li 16 e comecei a ler - ou li trechos - de 10). Como eu disse no começo sobre esses tipos de livros (Must-qq coisa), a lista é bem centrada na Europa e nos EUA, embora conte com algumas indicações aqui e ali latino-americanas, asiáticas e africanas. Enquanto muitos autores faltaram, alguns se repetiram - se produziram mais de um clássico, ótimo, mas porque não ceder espaço a outro que não constava ainda.

Sobre o espaço pra escrever a resenha: tem espaço para o título, o autor, a data em que leu e a cotação de 1 a 5 estrelas e claro para escrever o texto. O caderno tem o tamanho de um pocket da penguin, o que faz o espaço para escrever bem curto - até para uma pessoa com textos sintéticos como eu. Em algumas páginas, em que a seguinte é ocupada com uma ilustração de capa de livro, o espaço que já era pequeno (duas páginas de um pocket) fica menor ainda, o que faz o desafio da escrita ser maior ainda. 

Nota final? Três de cinco. Não fosse o espaço para apenas 57 resenhas e o tamanho de pocket (que por outro lado é bom de carregar pra qualquer lugar), eu compraria sempre. Apesar de gostar muito de internet, e de escrever aqui, ainda tenho isso de analógico: para mim, nada como papel e caneta. Em geral, escrevo melhor - ainda que seja só o esqueleto de um texto - quando escrevo usando papel e caneta. Gosto de ver fisicamente os meus textos reunidos num só lugar. Então sim, vou usar bastante como esqueleto das resenhas de livros que for apresentar aqui. E quando o espaço para resenhas acabar, vou usar para a organização da biblioteca, para checar quais dos 501 livros que eles indicam eu li. Quem sabe algum dia não chego aos 501...


terça-feira, 29 de junho de 2010

Dicas de blogs

Não faço listas de blogs que leio ao lado, até porque acompanho muitos e a lista ou ia ser enorme ou ia ficar devendo. Uma das formas então de compartilhar quando gosto de algum é compartilhar no Google Reader alguma postagem interessante (aí é ver no quadro ao lado). A outra é postar sobre os blogs em si. E é o que vou fazer agora, com três deles.
O primeiro, O Mundo por LPP, é garantia de textos bem escritos com comentários sobre o que der na cabeça do dono do blog, o Luis. A princípio, nada de interessante - um blog pessoal de algum conhecido meu. Mas o que faz dele ser interessante em qualquer época é que raramente é blog diarinho sem algum comentário interessante. Mas tem algo especialmente interessante no blog, no momento: o Luis está na África do Sul acompanhando a Copa, e os comentários dele, especialmente sobre os anfitriões, estão muito interessantes. Então que seja para ler a viagem dele na África, super vale a pena pelo menos por esses 15 dias.
O segundo é pra ler o ano inteiro. Já citei o mesmo duas vezes nesse ano, e agora faço a recomendação expressa para o blog completo: o Lost in Japan! O blog é escrito por um descendente de japoneses que mora no Japão já há alguns anos, e o objetivo é apresentar o Japão, seu povo e sua cultura pros brasileiros. Em alguns posts, ele se centra em mostrar o Japão em fotos (sim, todo o arquipélago, e não apenas as obviedades ou lugares relacionados à cultura pop japonesa), em outros o assunto é a relação Brasil-Japão, em outros a cultura japonesa... e por aí vai. Ótimo blog para quem tem curiosidade sobre o Japão para além do que é mostrado pela cultura pop.
R.izze.nhas, o último, é um blog sobre literatura, com ênfase nas resenhas que Izze, a autora, faz -SEMANALMENTE. É, isso aí mesmo: a guria tem uma média de leitura invejável. Média explicável não apenas pela sua paixão pela literatura, mas pelo que ela quer da vida: estudante de jornalismo, quer (né, Izze?) ser crítica literária. O que cai na mão dela, ela lê e faz uma boa resenha. E lê tudo, de clássicos a novatos, o que é uma boa porta para quem está começando e para quem quer resenhas sobre autores novos.


segunda-feira, 28 de junho de 2010

Novo código florestal brasileiro

Atendendo a pedidos de uma grande amiga engenheira florestal, aqui estou postando sobre a tentativa da bancada ruralista de mudar o código florestal brasileiro. Acrescentado-se ao pedido dela, um e-mail do Avaaz (rede de mobilização - sim, um lugar que concentra aquelas petições online) lembrando que temos até quarta-feira próxima para assinarmos a petição contra o novo código.Sim, pode parecer um pouco utópico que simples assinaturas online resolvam os problemas nacionais, mas antes gastar 2 segundos assinando do que fazer nada. E porque temos que lutar contra o novo código? 
Simples. Para que as nossas matas se mantenham, para que os criminosos não sejam anistiados. Como são muitas informações e os meus sites-fontes tem textos bem resumidos, vou cita-los fazendo dando a referência no final de cada grupo de citações - os grifos são meus.
Um detalhe despercebido no relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) que modifica o Código Florestal Brasileiro autoriza o desmatamento de 80 milhões de hectares de vegetação nativa, caso a nova regra definida no texto final do parlamentar entre em vigor. O cálculo das possíveis perdas em razão dessa alteração específica da lei, a que o Correio teve acesso, foi concluído pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) no fim da semana passada.Os 80 milhões de hectares — equivalentes a 138 territórios do tamanho do Distrito Federal (DF) — são áreas preservadas que não precisariam entrar no cálculo das reservas legais nas propriedades rurais, por meio de um mecanismo definido por Aldo Rebelo sem qualquer alarde. 
(...) 
Guerra entre os estados

A possibilidade de os estados decidirem sobre a redução de até 50% das faixas mínimas de áreas de preservação permanente (APPs), como prevê o novo Código Florestal, pode gerar uma “guerra ambiental” entre as unidades federativas: vence quem fizer menos exigências a empreendimentos econômicos interessados em se instalar no local. Mais do que isso, a transferência da União para os estados da responsabilidade de editar normas ambientais e ampliar a fiscalização esbarra nas dificuldades estruturais das Secretarias de Meio Ambiente.
Essas citações aterradoras são de uma mesma reportagem do Correio Braziliense, que ainda termina com Aldo Rebelo defendendo os ruralistas:
A falta de estrutura dos órgãos ambientais, inclusive do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), é apontada no voto final do deputado Aldo Rebelo, relator do novo Código Florestal. “Há muitos conflitos de competência entre os órgãos ambientais, o que acaba por prejudicar os proprietários das terras”, cita o relatório.
O texto de 247 páginas do relatório propõe a redução da faixa de mata que deve ser mantida nas margens dos rios dos atuais 30 metros mínimos para 15 metros, podendo ser 7,5 em riachos.
Como se assoreamento dos rios já não fosse uma questão grave atualmente no Brasil, que tal assorear ainda mais? Voltando ao post:
O documento também prevê moratória de cinco anos, na qual ficam suspensas punições a crimes ambientais no campo, até que os estados elaborem um plano de regularização fundiária. O relatório propõe ainda que áreas com atividade agropecuária consolidada até julho de 2008 sejam mantidas e regularizadas.

— Não concordamos 
com anistia e moratória. Não podemos comparar uma agricultura consolidada de 50 anos a uma área recém-desmatada.
 E agora um site... ruralista (sim, do agronegócio, aquele que quer o lucro E MAIS NADA):
Mesmo contrário à votação do relatório neste ano, o Ministério do Meio Ambiente pediu, entre outros pontos, a retirada da "anistia" a desmatamentos feitos até junho de 2008 e a "moratória" de cinco anos para multas por crimes ambientais.
Essas aspas só podem ser piada de mau gosto, né? ¬¬

Bom, fiz um recorte e cola sem vergonha, mas a minha falta de maior conhecimento no assunto (afinal de contas legislação ambiental é especialidade da Luciana - a minha amiga engenheira florestal) não me permitiu que eu fizesse um post melhor: pra que resumir ainda mais o que já é um resumo da situação? Fiquei no Ctrl C + Ctrl V mesmo. Novamente, peço a assinatura AQUI. Não é muito assinar algo pela internet, mas repito: se divulgarmos a situação e fizermos pressão, quem sabe os nossos nobres deputados percebam que tem uma população vigiando os seus passos...


Toca Raul!

Adicionar legenda
Numa roda de violão, nunca peço para tocarem Raul. Nem Legião. Adoro tanto um como outro, mas chega, né, é pra ouvir de vez em nunca, apesar de serem clássicos do nosso combalido rock nacional. Combalido mesmo - as velhas bandas estão decadentes (estou falando das que fizeram grande sucesso, como Titãs e Paralamas) e as novas.... bem, só porcarias. Mas como ele estaria fazendo 65 anos se não tivesse escolhido ser um Maluco quase não Beleza, está aqui a minha homenagem. 
Queria que todos os anarquistas fossem como ele. Que todos os letristas tivessem o seu talento. Que os arranjadores, idem. E que o reconhecessem por mais do que as músicas mais conhecidas. Mas enfim, o mundo não é como a gente quer, ele é como é. Fica a dica do dia: conhecer mais da obra dele, notar como ele, antes de todo mundo, misturou rock and roll com música brasileira. Como ele honrou o rock and roll, e o rock (que são coisas distintas, sabe). Quem não sabe, que pesquise. Ou um dia que não tenha jogo do Brasil eu me dedico a fazer um post sobre isso, quem sabe.
Apesar dessa ode a um conhecimento maior da obra do Raulzito, vou fechar com a letra dele que me define: Metamorfose Ambulante. Eu sei, é muito clichê. Mas sou uma pessoa que se predispõe e gosta de mudar - de atitudes, de idéias. Então fica essa mesmo ^.^

Prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Eu quero dizer
Agora, o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou

Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor

Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator

É chato chegar
A um objetivo num instante
Eu quero viver
Nessa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou

Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor

Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator

Eu vou lhe dizer
Aquilo tudo que eu lhe disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo



quinta-feira, 24 de junho de 2010

Gregório de Matos

Não vou aqui falar quem foi Gregório de Matos. Não com detalhes, mas facilmente se pode dizer que foi o nosso maior representante do barroco - ou ao menos o mais reconhecido atualmente. Viveu no século XVII, no que hoje é o Nordeste do Brasil. E aqui fica uma singela homenagem, com uma poesia escrita há mais de três séculos e tranquilamente entendida e admirada hoje, no começo do século XXI. Bendito mestrado me fazendo relembrar a existência das poesias do Boca do Inferno.
Fingindo o poeta que acode pelas honras da cidade,
entra a fazer justiça em seus moradores,
signalandolhes os vicios, em que alguns delles se depravavão.
  1. Uma cidade tão nobre,
    uma gente tão honrada
    veja-se um dia louvada
    desde o mais rico ao mais pobre:
    Cada pessoa o seu cobre,
    mas se o diabo me atiça,
    que indo a fazer-lhe justiça,
    não me poderão negar,
    que por direito, e por Lei
    esta é a justiça, que manda El-Rei.
  2. O Fidalgo de solar
    se dá por envergonhado
    de um tostão pedir prestado
    para o ventre sustentar:
    diz, que antes o quer furtar
    por manter a negra honra,
    que passar pela desonra,
    de que lhe neguem talvez;
    mas se o virdes nas galés
    com honras de Vice-rei,
    esta é a justiça, que manda El-Rei.
  3. A Donzela embiocada
    mal trajada, e mal comida,
    antes quer na sua vida
    ter saia, que ser honrada:
    à pública amancebada
    por manter a negra honrinha,
    e se lho ouve a clerezia
    dão com ela na enxovia,
    e paga a pena da lei:
    esta é a justiça, que manda El-Rei.
  4. A casada com adorno,
    e o Marido mal vestido,
    crede, que este mal Marido
    penteia monho de cono:
    se disser pelo contorno,
    que se sofre a Fr. Tomás.
    por manter a honra o faz,
    esperai pela pancada,
    que com carocha pintada
    de Angola há de ser Visrei:
    esta é a justiça, que manda El-Rei.
  5. Os Letrados Peralvilhos
    citando o mesmo Doutor
    a fazer de Réu, o Autor
    comem de ambos os carrilhos:
    que se diz pelos corrilhos
    sua prevaricação,
    a desculpa, que lhe dão,
    é a honra de seus parentes
    e entonces os requerentes,
    fogem desta infame grei:
    esta é a justiça, que manda El-Rei.
  6. O Clérigo julgador,
    que as causas julga sem pejo,
    não reparando, que eu vejo,
    que erra a Lei, e erra o Doutor:
    quando vêem de Monsenhor
    a Sentença Revogada
    por saber, que foi comprada
    pelo jimbo, ou pelo abraço,
    responde o Juiz madraço,
    minha honra é minha Lei:
    esta é a justiça, que manda El-Rei.
  7. O Mercador avarento,
    quando a sua compra estende,
    no que compra, e no que vende,
    tira duzentos por cento:
    não é ele tão jumento,
    que não saiba, que em Lisboa
    se lhe há de dar na gamboa;
    mas comido já o dinheiro
    diz, que a honra está primeiro,
    e que honrado a toda Lei:
    esta é a justiça, que manda El-Rei.
  8. A viúva autorizada,
    que não possui um vintém,
    porque o Marido de bem
    deixou a casa empenhada:
    ali vai a fradalhada,
    qual formiga em correição,
    dizendo, que à casa vão
    manter a honra da casa,
    se a virdes arder em brasa,
    que ardeu a honra entendei:
    esta é a justiça, que manda El-Rei.
  9. O Adônis da manhã,
    o Cupido em todo o dia,
    que anda correndo a Coxia
    com recadinhos da Irmã:
    e se lhe cortam a lã,
    diz, que anda naquele andar
    por a honra conservar
    bem tratado, e bem vestido,
    eu o verei tão despido,
    que até as costas lhe verei:
    esta é a justiça, que manda El-Rei.
  10. Se virdes um Dom Abade
    sobre o púlpito cioso,
    não lhe chameis Religioso,
    chamai-lhe embora de Frade:
    e se o tal Paternidade
    rouba as rendas do Convento
    para acudir ao sustento
    da puta, como da peita,
    com que livra da suspeita
    do Geral, do Viso-Rei:
    esta é a justiça, que manda El-Rei.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Xenofobia e Vargas

Estava eu lendo os blogs que acompanho na internet quando me deparei com algo que me chocou e desagradou bastante. Acompanho tem um tempo já o Lost in Japan! (que até já foi citado aqui), um blog de um brasileiro descendente de japoneses que mora no Japão. No blog, ele mostra a cultura japonesa para além da cultura pop que chega a nós, apresentando mesmo o país para quem não vive lá. Muito bom, leio sempre.
Indo ao assunto do título deste post, essa semana o Alexandre postou, na sexta dia 18 de junho, uma homenagem aos 108 anos de imigração dos japoneses no Brasil. Mas escolheu, ao invés de mostrar o quão receptivo o Brasil foi, contar uma triste história de eugenia cometida no governo Vargas (em 1938, às vésperas da II Guerra Mundial). Vargas, nesse tempo, estava adotando uma política de eugenia racial (para "melhorar a raça", branqueando a população brasileira), o que se refletia na política de imigração: só poderia ficar no Brasil quem tivesse plenas condições de trabalhar - especialmente se o candidato a imigrante não fosse branco. Consequencia dessa política: muitas famílias separadas no momento de embarque no Brasil, pois nem todos chegavam em condições perfeitas para trabalho - como foi contado neste post.
A história do post - um pai separado da sua mãe e da sua filha mais nova, ficando apenas com a mais velha - já é bastante triste per si. A família, separada no porto de Santos, nunca mais se reencontrou. À tristeza da história, junta-se a tristeza causada pela reação de alguns dos leitores do blog: ao invés de se solidarizarem com os sofrimentos impostos pela imigração, ficaram estarrecidos porque o dono do blog falou mal do Brasil! Sim, isso mesmo. Não se pode falar dos erros do passado, olhar criticamente para o que aconteceu: criticar é falar mal, um ato de desamor à pátria. Infelizmente o que se viu foi uma reação de apoio à xenofobia .
Como historiadora e professora, fiquei muito muito triste.Uma das funções da minha profissão é desmistificar  o passado, e o que esses ufanistas demonstraram é que alguns ainda desejam um passado mítico. O mito do Brasil acolhedor, do Brasil não racista, dentre outros mitos. Querer desmerecer esses sofrimentos é um desserviço histórico, uma ode ao miticismo. Que eu não aceito. Histórias como essas têm sim que ser contadas, analisadas. A Guerra do Paraguai, a Guerrilha do Araguaia, a História da Imigração. Tudo tem que ser estudado, se não quisermos construir um país tendo como ponto de partida uma memória completamente irreal.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A Biblioteca da Imaginação Humana

Estava eu despreocupadamente surfando pela internet quando me deparo com um post no Blog da Cultura sobre a Bilioteca da Imaginação Humana. É uma biblioteca privada reunida por um desgraçado  milionário norte-americano que investiu dinheiro numa...biblioteca. Numa FANTÁSTICA biblioteca, diga-se. Porque não é apenas um lugar onde se guardam livros, mas também valiosas peças que remetem a toda a história do conhecimento humano (especialmente ocidental, pelo que deu pra ver). E eu, como curiosa que sou (amo História, mas não só isso - tanto que estou dando meus primeiros passos estudando História da Ciência e Hist. das Artes por puro lazer) babei muito, muito feio mesmo pela tal biblioteca. Abaixo, dois vídeos: o primeiro é o vídeo de divulgação feito pelo proprietário e no segundo ele mostra numa palestra parte da sua coleção (em inglês, infelizmente sem  legenda). Só tenho pena de UMA coisa: a biblioteca é particular, só entrando nela os devidamente convidados pelo milionário. Bom, aqui um gostinho:





segunda-feira, 14 de junho de 2010

Mulher também gosta de futebol.Ponto.

Não sou grande adepta do feminismo - como não sou grande adepta de nenhum -ismo, aliás. Mas minha pequena veia feminista está saltando nesta Copa. Detesto generalizações de gênero. Ok, confesso, algumas eu mesma faço - não vou ser hipócrita e falar que não. Mas se tem uma que detesto é a que determina que gostar de esporte é coisa de homem. Não, meus (onde estão vocês?) leitores.Mulheres também gostam de esporte - e, adivinham? Nem todas que gostam de observar ou até mesmo praticar esportes andam e sentam com as pernas abertas.Eu, por exemplo. Não sou nenhum exemplo de mulher super feminina - falo meus palavrões, gosto de piadas escatológicas, curto ser grossa quando preciso.Dentre outras características "masculinas" que tenho. Mas não gesticulo, ando ou sento como homem. E gosto de futebol. Uma ameba jogando - conduzir bola, não consigo - driblar então fora de cogitação, mas bem sei a regra de impedimento, tá!? E não sou a única - posso falar pelas minhas amigas, grande parte delas gosta de futebol, entende um mínimo e não tenho amigas "caminhoneiras".
Então, jornalistas, não me venha fazer um glossário imbecil falando o que é BOLA, CAMPO e outras babaquices - nós mulheres já sabemos. Não me venham pegar aqueles casais clichês pra falar da relação futebol-casais como se essa fosse a realidade atual. Sinto informar aos jornalistas  que já tem um tempo que entender de futebol não é mais exclusividade masculina. Tem um tempo já que parte das mulheres brasileiras - eu inclusive - vemos jogos não apenas pra observar a beleza (ou falta dela) dos jogadores. E muitos dos meus amigos entendem menos de futebol que muitas das minhas amigas (e de F1, e de outros esportes, por sinal).Nós, mulheres que gostam de acompanhar esportes - um grupo cada vez maior - merecemos mais respeito. E sendo redundante: sim, somos femininas.