quarta-feira, 23 de junho de 2010

Xenofobia e Vargas

Estava eu lendo os blogs que acompanho na internet quando me deparei com algo que me chocou e desagradou bastante. Acompanho tem um tempo já o Lost in Japan! (que até já foi citado aqui), um blog de um brasileiro descendente de japoneses que mora no Japão. No blog, ele mostra a cultura japonesa para além da cultura pop que chega a nós, apresentando mesmo o país para quem não vive lá. Muito bom, leio sempre.
Indo ao assunto do título deste post, essa semana o Alexandre postou, na sexta dia 18 de junho, uma homenagem aos 108 anos de imigração dos japoneses no Brasil. Mas escolheu, ao invés de mostrar o quão receptivo o Brasil foi, contar uma triste história de eugenia cometida no governo Vargas (em 1938, às vésperas da II Guerra Mundial). Vargas, nesse tempo, estava adotando uma política de eugenia racial (para "melhorar a raça", branqueando a população brasileira), o que se refletia na política de imigração: só poderia ficar no Brasil quem tivesse plenas condições de trabalhar - especialmente se o candidato a imigrante não fosse branco. Consequencia dessa política: muitas famílias separadas no momento de embarque no Brasil, pois nem todos chegavam em condições perfeitas para trabalho - como foi contado neste post.
A história do post - um pai separado da sua mãe e da sua filha mais nova, ficando apenas com a mais velha - já é bastante triste per si. A família, separada no porto de Santos, nunca mais se reencontrou. À tristeza da história, junta-se a tristeza causada pela reação de alguns dos leitores do blog: ao invés de se solidarizarem com os sofrimentos impostos pela imigração, ficaram estarrecidos porque o dono do blog falou mal do Brasil! Sim, isso mesmo. Não se pode falar dos erros do passado, olhar criticamente para o que aconteceu: criticar é falar mal, um ato de desamor à pátria. Infelizmente o que se viu foi uma reação de apoio à xenofobia .
Como historiadora e professora, fiquei muito muito triste.Uma das funções da minha profissão é desmistificar  o passado, e o que esses ufanistas demonstraram é que alguns ainda desejam um passado mítico. O mito do Brasil acolhedor, do Brasil não racista, dentre outros mitos. Querer desmerecer esses sofrimentos é um desserviço histórico, uma ode ao miticismo. Que eu não aceito. Histórias como essas têm sim que ser contadas, analisadas. A Guerra do Paraguai, a Guerrilha do Araguaia, a História da Imigração. Tudo tem que ser estudado, se não quisermos construir um país tendo como ponto de partida uma memória completamente irreal.

3 comentários:

Taíssa M disse...

Bonito o novo template, hein dona? Onde vc arranjou?

Eu vi esse blog, esse post que vc está falando... Achei extremamente chocante.

Enfim... Ainda bem que temos vc, dona professora de História! :)

Beijos

Fabiana Amaral disse...

Também pra não construirmos uma espécie de "brasilian way life"... Já basta o ufanismo megalomaníaco dos americanos. O mundo não precisa de outro.

L.S. Alves disse...

Eu li esse post, só não sabia que havia gerado tanta repercussão. Apesar de crer que o Brasil realmente é/foi um país bastante acolhedor eu conhecia relatos que durante a era Vargas os descendentes alemães foram perseguidos em SC. Sofrendo restrições e até mesmo violência. E essas histórias são do conhecimento de quase todo mundo aqui no estado. Nem por isso quem as contas é ofendido ou perseguido. É uma pena que coisas assim aconteçam na internet.
Um abraço moça.
...
rappyg