quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Olhares estrangeiros

Aqui estranhamente falarei sobre três livros que não li e um documentário que não vi. Normalmente não escreveria sobre eles, mas as semelhanças entre as temáticas me chamaram atenção. E, também, quem nunca emitiu uma opinião baseada apenas numa primeira observação? Além do que, escreverei sobre o que acho de comum entre eles e a curiosa recepção que têm tido.
O primeiro é O caçador de pipas, de Khaled Hosseini. O livro conta a história de dois garotos afegãos, e atravessa a história do país: fim da monarquia, comunismo, talibãs. O sucesso, acho, é creditado não só à narrativa, mas também por se passar no Afeganistão, um país que ninguém conhece a não ser pelas guerras e pelos talibãs. Os outros livros “comentados”, aliás, também se passam nesse país: os dois são reportagens.
O primeiro deles é o Livreiro de Cabul, de Asne Seierstad. Segundo livro de não-ficção mais vendido, segundo o Idéias e Livros do JB de 24.02.07. Ele é uma reportagem de jornalista norueguesa enviada ao Afeganistão para cobrir a guerra contra os talibãs. Após o fim do conflito, ela morou por três meses na casa de um livreiro que primeiro resistiu aos comunistas e por fim aos talibãs, para deixar a sua livraria aberta. O livro é sobre esses três meses e o choque cultural entre uma norueguesa e um autoritário muçulmano.
Outro livro que enfatiza o choque cultural e as atrocidades dos talibãs é o da fotógrafa Harriet Logan: Mulheres de Cabul. Ao que parece, é composto por depoimentos e fotos das mulheres submetidas ao regime e ainda em processo de reintegração com as ruas.
O documentário é o Send a bullet, dirigido por Jason Kohn e ainda sem previsão de data de lançamento no Brasil. Ele passou alguns anos aqui produzindo esse filme que tem como temas a violência, a corrupção, a concentração de renda. Soube desse comentário por uma entrevista que Jason deu ao “Segundo Caderno” do jornal O Globo e publicada em 3.2.7. Na entrevista, falou como se estivesse falando de um tema não abordado, como se também a relação que fez entre violência e corrupção fosse 100% original. Certo, ele está vendendo o peixe dele. Mas não, ele não é original e a imagem que se tem do Brasil não é só mulher, carnaval e futebol. Alguns fazem apenas essa associação, mas a visão negativa daqui não é nova nem nos Steites e nem no Brasil. Sendo lançado, verei.
O que esse saco de gatos têm em comum? Primeiro, são olhares estrangeiros sobre o terceiro mundo – à exceção do Caçador de pipas. Segundo, o sucesso que alcançaram. Os três primeiros são sucessos nas livrarias e o quarto ganhou prêmios no Festival de Sundance (cinema independente, EUA).
É certo o fascínio que culturas alheias causam em muitas pessoas. Se assim não fosse, esses livros não seriam publicados, traduzidos, vendidos. O documentário não ga nharia premiação nenhuma. Se as concepções deles têm algo de bom, é oferecer amostragens de realidades diversas.Se têm outros méritos, só vou saber quando conferi-los.
Não desmerecendo totalmente essas iniciativas, tenho algo a criticá-las. Se é verdade que mostram realidades desconhecidas, é também verdade que a ênfase desse tipo de coisa sempre está no que soa absurdo à cultura ocidental – quase um “denuncismo”. Infelizmente, é esse tipo de reportagem que mais faz sucesso e mais é divulgada, é quase como se precisássemos apontar os defeitos dos outros, como se forma de amenizar os nossos e também como maneira de esquecermos os nossos.
Não que corrupção, violência, machismo (exacerbado, o “brando” as mulheres ocidentais sentem e os homens quase sempre não se tocam), etc, não devam ser denunciados. Fechar os olhos para esses absurdos é a melhor forma de deixar que se perpetuem. Mas existem outras coisas a serem mostradas, coisas boas a ser melhor exploradas. Infelizmente, o que se vende mais, em termos de cultura muçulmana (p. ex.),é o absurdo do talibã (não consigo despertar a antropóloga em mim pensando neles). São as mulheres do mundo muçulmano reclamando tendo como parâmetro a cultura ocidental (descontentes sempre há, mas porque só elas têm mídia macissa?), homens que podem ter quatro mulheres (como se todos tivessem). Coisas que seriam melhor compreendidas se houvesse maior conhecimento da cultura muçulmana no Ocidente.
Não entrei em méritos e desméritos políticos dessa questão, até porque o texto já está longo o suficiente para um blog e porque estou caindo de sono aqui. Poderia estar melhor escrito, sei. Mas e a paciência pra revisar? Fica pro próximo.

domingo, 4 de fevereiro de 2007

Tolkien, Valinor, especialização em História

Que título mais esquisito! Onde andará o juízo dessa guria? Calma calma, tudo se explica.
Todos (ou quase) que estão lendo esse post sabem que o Tolkien (autor do Senhor dos Anéis) é um dos meus autores preferidos (ao menos atualmente). Sabem também que tem um site brasileiro dedicado a ele que eu gosto muito: a Valinor. Há mais ou menos um mês os administradores do site escreveram pedindo por novos colaboradores, para produzir e traduzir textos. Não hesitei e me candidatei assim que vi a notícia. Isso porque já estava com planos de colaborar com a Valinor de qualquer maneira, e antes deles pedirem. Sei que me vai me dar trabalho, mas sei também que tenho imenso prazer em compartilhar o que aprendi.
Professora e pesquisadora é realmente uma profissão indicada pra mim. Ora, acontece que a “academia” exige que você se especialize num determinado período da História. Claro que “trabalhos alheios a ele” são aceitos, mas as críticas àqueles que “pulam” de um período para outro são muitas, entre elas a de que o sujeito fala como se soubesse de tudo um pouco mas ele acaba sabendo nada, fazendo afirmações inconsistentes porque baseadas num breve período de pesquisa. É uma crítica também realizada por mim, inclusive. Por vários motivos, aos poucos fui me encaminhando para me especializar em Idade Média, mais especificamente o período da formação do Estado português, século XII em diante. Uma das minhas inspirações para estudar o período medieval foi a ambientação que o Tolkien deu à sua obra.
Sou apaixonada pela obra dele, não apenas por causa da sua ambientação medieval-fantástica, mas também porque ela tem uma qualidade essencial para ser adorável para mim: sua leitura me possibilita outras leituras, inspiradas por Senhor dos Anéis (e outras obras dele também). Além disso, a historiadora aqui adora estudar um determinado período tendo como fonte documentação literária. Prato cheio para um mestrado, certo? Errado. Já escrevi há umas linhas atrás que quero me especializar em Idade Média e não em Contemporânea, lembram? Ou não estavam prestando atenção? Então. Alinde fica chateada? Não! Ela lembra da Valinor!! E... a Valinor está pedindo por colaboradores, não? Não foram “aprochegadas” a fome e a vontade de comer? O site ganha textos e traduções e Alinde (ou *Ceinwyn*, para os valinoreanos ) ganha uma colaboradora! Lembram que ela adora compartilhar seus conhecimentos?
Não, nem tudo são nuvens. Essa futura historiadora ainda tem muito o que aprender em termos de disciplina. Ela está se formando, um ano difícil por natureza. Mas também é verdade que ela tem uma grande capacidade de aprender com os próprios erros e uma enorme vontade de estudar a obra do Tolkien e compartilhar seus estudos com os demais fãs que saibam português e acessem a Valinor. Que venha 2007 e todos os seus desafios!!
Aqui a página com as fotos dos colaboradores e pequenos perfis, reparem como a última garota é bela e seu texto é bom! Além de modesta, claro.