segunda-feira, 29 de março de 2010

Guilty pleasures


Texto antiguinho do ano passado, mas como ainda estava na pasta de rascunhos...

Quando discutimos nossos gostos musicais – seja ao vivo, seja pela internet – quase sempre vem à tona a questão “quais são seus guilty pleasures?”. Mas fica a pergunta: será mesmo que temos que sentir culpa por gostar de algo?

Lembro que há dez anos atrás, no auge da minha arrogância adolescente, não admitia gostar de nada que fosse pop (por mais que sozinha dançasse em casa) e criticava aqueles que não ouviam músicas “cults” (por “cult” entenda-se MPB, rock, blues, jazz, música clássica e instrumental). Uma chata, enfim. Não que essa postura seja uma questão de idade: se é mais facilmente observável em adolescentes, adultos também agem dessa forma – de forma menos veemente, mas não deixam de responder à pergunta apontada. E ora, se respondem, é porque sentem culpa de gostar algo “ruim” e julgam os gostos alheios.

Não que seja possível uma atitude neutra quanto a gostos, ainda mais com algo que mexe tanto com os sentidos e sentimentos como a música. Mas exatamente por ser algo que antes de chegar ao lado mais racional de nós passa pela nossa sensibilidade é que talvez devamos deixar a última fluir de forma mais natural, em nós e nos outros. Se temos vontade de cantar, por que não? Se queremos dançar, por que não?

Se não nos deixamos influenciar pelos nossos coleguinhas – especialmente coleguinhas de “tribos urbanas”, somos nós mesmos os nossos maiores censores. Somos nós que determinamos que estilos musicais são “bons”, que estilos não são. E não me venha dizer você, caro leitor, que nunca se auto-policiou por gostar de alguma música “tosca”. Não não. Quem comentar “nunca senti culpa por gostar de alguma música” eu simplesmente não acreditarei. Não acredito em pessoas que nunca tiveram preconceitos musicais tanto quanto não acredito em Papai Noel.

Quando somos adolescentes – e se estiver lendo esse artigo, possivelmente você é/foi um adolescente de classe média – começamos a formar um gosto musical independente do que papai e mamãe ouviam/ouvem. Muitas vezes migramos para o oposto – seja por pura rebeldia, seja porque nunca gostamos do que ouvimos em casa. E é nessa fase que os preconceitos começam a se formar – “eu gosto disso, não posso gostar daquilo”. Como se quem gostasse de rock não tivesse vontade de dançar, ou o contrário.

Quando nos tornamos adultos, quem disse que a patrulha acaba? Termina nada... ainda é “feio” gostar de algo fora dos seus padrões habituais. Ainda rola um auto- estranhamento e um estranhamento pelos coleguinhas.Se não fosse assim, por que nunca falta um tópico de “guilty pleasures” nos fóruns de discussão – mesmo os freqüentados por jovens adultos?

Termino dizendo que sim, já senti muita culpa por gostar de coisas “ruins” – e por ruins diga-se, algo não relacionado ao que cresci “me permitindo”gostar: rock, MPB.... E foi um ato de crescimento deixar de sentir culpa por gostar de algo. É, funk antigo eu gosto. Ponto. Gosto de dançar funk, qualquer um, outro ponto. Gosto de várias músicas do Black Eyed Peas, olha que feio. E me sinto melhor assim, sem culpa. Afinal de contas, se a música mexe comigo de alguma forma, mesmo sendo “ruim”, ou melhor, fora dos meus padrões de gosto e dos padrões dos meus coleguinhas, é “ruim” nada, é música que gosto de ouvir e ponto final. E convido todos a que se sentem culpados por gostarem de algo a refletirem: por que culpa? Se gostamos da música, ela é “ruim” por ser pop, por não estar dentro dos nossos padrões auto-impostos? Sinta-se livre para se divertir com o que for... =)


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Now playing: Does It Offend You, Yeah? - Epic Last Song
via FoxyTunes

sexta-feira, 26 de março de 2010

Porque não gosto das entrevistas do Jô

Pessoas são mesmo contraditórias. Assisto/ouço o programa do Jô com bastante frequencia, apesar das várias críticas. Se o entrevistado é humilde, de vez em quando rola uma humilhação. Se o assunto é interessante, quase não se fala dele (ou pelo menos não de forma direta).Além é claro do tamanho do ego do Jô, proporcional ao tamanho da barriga dele. Essa semana ele cometeu o mesmo erro dois dias seguidos: o de se concentrar em curiosidades relacionadas aos livros que estariam sendo divulgados, ao invés de se centrar nos livros. Na entrevista que foi ao ar ontem, a do jornalista Reinaldo José Lopes, foram gastos dois blocos com... curiosidades relacionadas ao assunto do livro. Sinopse? Pra que? Mas internet tá aí pra isso mesmo: preencher lacunas de informações básicas, daí foi só dar uma busca na Saraiva pra ver o que eu queria: informações sobre os livros (mal) divulgados. Jô, entrevistas mais informativas, pleaaaase.

Livro: Além de Darwin
Editora: Globo Editora
"Além de Darwin – Evolução: o que sabemos sobre a história e o destino da vida", de Reinaldo José Lopes, é uma oportuna contribuição ao grande debate internacional que tem no centro a teoria da evolução. Pois além de toda a abrangência indicada no subtítulo, sua outra grande qualidade está na clareza e na agilidade de seu estilo, próximo ao das grandes reportagens (o autor é jornalista de ciência).
Dois grandes motivos mantêm a teoria da evolução em evidência para além dos laboratórios e congressos científicos. Primeiro, a biologia ocupou o papel que a física teve no século passado: ela é a ciência do século XXI, a que concentra os resultados mais espetaculares, os maiores avanços e as repercussões mais amplas, além de se espalhar por vários aspectos da cultura e da sociedade contemporâneas. Da medicina à engenharia genética, dos alimentos modificados ao meio ambiente, das pesquisas com células-tronco à história da vida, tudo passa por ela. Segundo, a teoria da evolução está no centro do mais acirrado debate político-ideológico contemporâneo, o que confronta a própria evolução ao criacionismo (a crença na criação divina da vida), ou seja, ao discurso religioso. Além disso, a evolução é um daqueles fenômenos culturais tão familiares quanto mal compreendidos. Desde o início, com a publicação da obra de Darwin, vários ruídos de informação se intrometeram em sua recepção: a descendência do homem a partir do macaco (quando, na verdade, trata-se de um ancestral comum), a sobrevivência do mais apto ou do mais forte (quando, na verdade, trata-se da sobrevivência dos mais adaptáveis de cada geração de cada espécie às mudanças em seu meio ambiente), a condição de “mera teoria” do conceito de evolução (quando, na verdade, em ciência teoria significa uma hipótese já provada). Por fim, o darwinismo não para, ele próprio, de evoluir: o exemplo mais dramático foi seu encontro com a genética (desconhecida no tempo de Darwin).
Tudo, portanto, conspira para tornar livros como Além de Darwin simplesmente incontornáveis para quem queira compreender seu próprio mundo. Na síntese do autor, “Nenhum aspecto da vida na Terra, das hélices moleculares das bactérias às emoções humanas, tem sentido sem a força iluminadora da teoria da evolução. Faz um século e meio que a biologia evolutiva foi fundada por Charles Robert Darwin [...]. Desde então, o alicerce lançado por ele deu lugar a um edifício imponente, que confirmou a essência do que o naturalista britânico propunha e, ao mesmo tempo, ampliou de forma vertiginosa o conhecimento que temos sobre a origem e a natureza dos seres vivos. O livro que você tem em mãos é um passeio pela versão mais atualizada e empolgante desse legado”.
Livro: Criação Imperfeita
Editora: Record
Gleiser, um dos grandes cientistas da atualidade, desmonta o maior mito da ciência e da filosofia ocidentais: o de que a Natureza é regida pela perfeição. O físico brasileiro radicado nos EUA também contesta o discurso dos ateístas radicais, como Richard Dawkins, mostrando que a ciência não prova a inexistência de Deus.
E ah, a Saraiva disponibiliza um trecho desse livrohttp://www.livrariasaraiva.com.br/produto/2872552/criacao-imperfeita/?ID=BD1977667DA031A0C1F130254, deu vontade de comprar =)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Somos o que gostamos?

Todo fã de artes se depara com essa pergunta, mais cedo ou mais tarde: quanto nossos gostos definem o que somos? Ou seria o contrário: quem somos define o nosso gosto? Acredito que o que somos define o nosso gosto, mais do que o contrário. Acho que uma pessoa demasiadamente agitada dificilmente gosta de sentar por mais de duas horas quietinha, lendo - por exemplo. E gosto não define caráter.
Mas sim, de algumas formas nossos gostos participam da nossa formação como pessoas. Letras de música, filmes, livros, podem ser grandes pontapés de reflexão sobre a vida, sobre o mundo - claro, quando se propõe a refletir. Especialmente música e especialmente com a expansão da troca de arquivos, só quem se interessa mesmo por música absorve o que ouve.
Nossos gostos não são apenas pontapés para reflexões, mas para nossos passeios (quando podemos): que cinema frequentamos, que lojas, que shows, até mesmo que casas de shows e bares. Geralmente também impulsionam amizades e demais relações.
Apesar de grande impulsionadora para várias coisas na vida, as artes ajudam a nos definir, mas não têm a importância que muitos atribuem. Se um dos sentidos de se viver é apreciar o que de belo se tem produzido ao longo da História, esse não é o único. Se são uma forma de aproximar pessoas, podem também afastar - quantas pessoas são definidas como "não interessantes" apenas por terem gostos muito diferentes (responda com honestidade aqui)? 
Gosto não define caráter, personalidade, solidariedade. E essas são as coisas que carregamos mais fortemente nas nossas relações, nas nossas vidas. Então fica aqui a dica pra não levar gostos artísticos tão a sério - ninguém fica necessariamente melhor ou pior por gostar disso ou daquilo. E digo isso porque já levei essa questão a sério demais, até perceber que não são as leituras, as músicas, que definem, mas a forma como as pessoas as absorvem - e até perceber que pessoas "incultas" podem ser bem mais interessantes do que pessoas "cultas"...


terça-feira, 23 de março de 2010

100 anos de Akira Kurosawa



Se estivesse vivo, Kurosawa estaria completando 100 anos hoje. Em 88 anos de vida e mais de 50 de carreira, dirigiu 30 filmes e foi roteirista de tantos outros. 
Ainda não vi todos os seus filmes, mas certamente verei todos até morrer. Tudo o que foi dirigido/escrito/adaptado por ele me fascinou. A magestria com que adaptou Shakespeare pro Japão feudal é inesquecível, assim como seu filmes sobre samurais e os com temática contemporânea: um gênio, enfim. Não à toa foi o chamariz ocidental pro cinema oriental.
Imortal, sim. Seus filmes o imortalizaram, provavelmente daqui a 100 anos estarão comemorando os 200 anos de nascimento dele. E fazendo retrospectivas, como a que o IMS está fazendo no Rio (só não vou ver hoje porque não estou com a menor vontade de me despencar pra Gávea).

terça-feira, 16 de março de 2010

Ainda Glauco

Porque nunca é tarde pra registrar homenagem.... se você mora no Planeta Terra, sabe que o cartunista Glauco foi assassinado na última sexta. Triste. Seria melhor se ele morresse de velhice, ou ao menos de doença - e assim teríamos mais tempo de trabalho realizado por ele.

Última tira do Glauco, publicada ontem na Folha de S. Paulo:

E das várias e várias homenagens, vai uma das que mais gostei - uma que homenageia o Glauco E os quadrinhos em geral (Caco Galhardo, Folha, segunda):









Aqui post do blog Universo HQ com diversas tirinhas de homenagem.

Descanse em paz, Glauco, produz bastante no céu até eu morrer pra ver.



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Now playing: Legião Urbana - Maurício
via FoxyTunes

quarta-feira, 10 de março de 2010

Dicas - download

Aqui vão duas dicas de download de programas referentes a música: Songbird (player) e GodFather (organizador). Além de comentários de uso, claro.
Baixei o Songbird ontem e estou gostando bastante. Ele é bem integrado à internet, o que faz com que sem sair do player se possa ver a letra, a wikipedia sobre a banda... pode ser integrado ao Last FM, pode ter plugins que ajudam a fazer playlists, a fazer tag, etc. Pra quem tem um inglês que não é 100% (como o meu, que quase não identifico a letra do que estou ouvindo). Para quem gosta de se informar sobre o que está ouvindo/sobre a banda (como eu). A resenha do UOL apontou dois defeitos: a sua conexão tem que ser boa, ou não vai ter como aproveitar tudo o que o player oferece (fato). E disse ainda que de vez em quando ele falha com o XP, faz coisas como desligar sozinho. Bom, ainda não aconteceu comigo (ainda bem). Mesmo que essas falhas aconteçam, vou seguir com ele. Informativo e bonito (sem ser meeega pesado) - tudo que quero. Um print pra mostrar o bicho em ação (com seus lindos plugins *.*):












O segundo é meio chatinho de aprender a usar, mas no final das contas tá valendo a pena: o GodFather.Quem tem muitas músicas (tipo eu) sofre com volumes diferentes das mp3, com as tags mal feitas (que consequentemente deixam o mp3/mp4 mal arrumado). E quem gosta de ter as pastas arrumadas como eu tem que ter um programa desses, pra padronizar os álbuns, os artistas... (e os players não terem como fazerem pastas desorganizadas). Então, taí um bom organizador ^.^  Não, não baixem esse. É uma porcaria. Pra que um organizador de biblioteca se não se entende como alterar definitivamente os dados?
Muito melhor esse aqui: Mp3tag. Em português, com uma interface que todo mundo entende.Vale muuuito mais (e agora sim minha biblioteca vai ficar organizada, facilitando a busca...).


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Now playing: The Who - Christmas
via FoxyTunes .







segunda-feira, 1 de março de 2010

445 anos de Cidade Maravilhosa





Hoje a minha linda cidade completa 445 anos de fundação. Claro, eu poderia escrever sobre os problemas dela, mas bom, aniversário é data de lembrar as coisas boas, né? Temos 364 dias ao ano pra reclamar...
Então celebremos a importância cultural, histórica e representativa do Rio. Celebremos as suas belezas naturais, que não cansa de espantar nem mesmo aos cariocas. E o charme dos cariocas, claro, que conquistam todos (menos aqueles que queriam ser cariocas mas não são).
Não desmerecendo as outras grandes cidades do Brasil (amo o Rio, mas não sou tão bairrista), mas nunca é demais lembrar quanta História passou e passa por aqui;quantos maravilhosos poetas aqui nasceram, viveram e a celebraram. E claro, o samba. Não o de roda, baiano, mas o nosso samba, quase uma unanimidade (só não o é porque toda unanimidade é burra, como diria Nelson Rodrigues), a bossa nova. Celebremos ainda os cronistas, os contistas, os romancistas inspirados pela cidade.
Não, não temos pouca coisa a celebrar nesse aniversário. A literatura (e aqui digo toda a produção bibliográfica), a música, a documentação plástica - são todas amplas o suficiente para se entreter por dias, meses, anos só com a cidade - sem contar os passeios que aqui podem ser feitos.
Tem como não se apaixonar?

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Outro aniversariante do dia: Frédéric Chopin e seus 200 anos de nascimento. Não à toa estou fazendo maratona Chopin no Youtube... e a "Fantasie" é linda demais *.*


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Now playing: Yundi Li - Chopin "Fantasie" Impromptu, Op. 66
via FoxyTunes