Com a popularização cada vez maio dos e-readers, está-se criando uma polêmica que, a meu ver, pode ser uma grande bobagem: o objeto livro vai se tornar uma excentricidade? A meu ver, não. Não gosto de bancar a futuróloga, mas acho que ambos irão coexistir, livros e e-books.
No início do século XX, quando surgiram os primeiros LPs, a pergunta foi: e os rádios? E os shows ao vivo? As pessoas vão ter acesso às músicas no recôndito de seu lar... quando a TV surgiu, a mesma pergunta em relação ao rádio: ele vai se extinguir? Não, ele não se extinguiu: apenas mudou a sua programação, rádio-novelas passaram a não fazer mais sentido. E assim em diante.Viajando-se para algumas décadas adiante, a internet passou a representar um grande risco para o mercado de CDs e DVDs: é só baixar, pra que vou gastar dinheiro para ter algo físico se posso ter o mesmo com a mesma qualidade(nem tanto em relação a música, mas enfim) gastando ou muito menos ou nada? Essas indústrias sim estão em risco de extinção, a meu ver. Especialmente a de CD - não a musical. A infra-estrutura das gravadoras ainda oferece bastante aos artistas, ou parte deles não estaria brigando contra a pirataria. O modelo de negócios vai mudar, mas o negócio vai continuar.
Com o livro, tem-se uma relação muito diversa à que temos com CDs e DVDs. Não nos apegamos tanto ao material que constitui um CD-DVD-Bluray, mas ao papel... se não se apega tanto mais à escrita manuscrita, o manuseamento do objeto livro, a beleza do mesmo (especialmente se for uma boa edição), a história que cada objeto-livro encerra em si são, a meu ver, insubstituíveis. E pra que ter uma biblioteca embaixo do braço se lemos no máximo uns 3 livros por vez? E quem precisa carregar uma biblioteca no metrô, se podemos carregar um livro, abrir, sentir seu cheiro e ler o mesmo no trajeto? E o maravilhamento de estar DENTRO de uma biblioteca, o e-reader vai substituir? Não, o e-reader não vai substituir nenhuma dessas sensações. Ele vai criar outras, mas será mesmo que vai substituir uma cultura de 5 mil anos? O hábito de ouvir música em casa, a hora que se queira, tem menos de 100 anos. A cultura do livro - do manuscrito ao impresso- tem 5 mil anos. Como disse acima, detesto bancar a futuróloga, mas acho que o e-reader vem a ACRESCENTAR, não a SUBSTITUIR a forma da cultura escrita. E quem vos escreve é uma amante de tecnologia, não alguém que tenha aversão à mesma, alguém tradicionalista, que não goste de nada digital. Quando tiver meu smartphone (porque sim, eu quero ter), vou usar pra ler e comprar livros, isso é fato. Mas o hábito de ler no smartphone/no e-reader no metrô ou no avião, ou em qualquer outro lugar NUNCA vai substituir a minha paixão pelo objeto livro. Quando tiver filhos, vou ler para eles com livros em papel. E é assim que a cultura do objeto-livro vai continuar: o deslumbramento visual, olfativo e do tato passado de pai/professor/educador para as novas gerações, se Deus quiser e meu pequeno exercício de historiadora-futuróga estiver minimamente correto.
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