"Gatinho inglês [...] você poderia me dizer, por gentileza, como é que eu faço pra sair daqui?"- Isso depende muito para onde você pretende ir - disse o Gato.- Para mim tanto faz para onde quer que seja... - respondeu Alice- ... contanto que eu chegue em algum lugar...- acrescentou Alice, explicando-se melhor.- Ah, então certamente você chegará lá se continuar andando bastante - respondeu o GatoAlice achou que não se podia negar isso; tentou, portanto, uma outra pergunta:- Que tipo de gente vive por aqui?- Naquela direção - disse o Gato, apontando com a pata direita - mora um Chapeleiro e naquela direção - apontando com a outra pata - vive uma Lebre Aloprada.
Esse é um dos meus trechos preferidos de Alice no País das Maravilhas - se não for o meu preferido. O Gato,que na continuação do trecho profere a famosa frase "We are all mad here", mostrou-se mais lúcido do que Alice - ao menos nessa parte do diálogo. Alice queria sair de onde estava, mas não importando o destino.Foi preciso que o Gato perguntasse a ela "mas afinal, o que vc quer?" para Alice parar e refletir - para finalmente fazer uma pergunta que conduzisse a uma resposta mais precisa.
Tal como Alice, é comum apenas caminharmos, sem parar para pensar para onde estamos indo. Reflexão correlata a outras duas: "de onde viemos" e "onde estamos".Perguntas aparentemente simples, mas que nos embolam se não as fazemos: ficamos perdidos como Alice.
Além das questões referentes à nossa história de vida, temos ainda outra referente ao tempo: quão bem o aproveitamos? Refletimos sobre o que estamos fazendo? Sobre como aproveitamos nosso tempo de lazer? Infelizmente, sob alguns aspectos, essa reflexão requer cada vez mais esforço para ser alcançada.O excesso de informações a que somos submetidos é um convite ao consumo rápido e pouco efetivo. Vamos a um exemplo de lazer: a música.
Quando eu era criança, e até os meus 13 anos de idade,eu tinha três opções para ouvir música: rádio, vitrola e fita K7. Aos 13, comecei a ter MTV em casa e tive meu primeiro CD player. Significa que até 1997, pra ouvir música, tinha que selecionar o vinil ou a fita,ouvir um lado, pausar pra trocar e depois ouvir o outro. Se quisesse ouvir uma música específica, teria que procurar a dita. Informações sobre música? MTV, revistas e fanzines. Quanto tempo desperdiçado, pode parecer. Mas será mesmo?
Treze anos depois,a forma de se consumir música mudou de tal forma que sou dinossáurica para meus irmãos de 16 e 19 anos (Fausto, o de 20, cresceu com vinil, compra CD... =])LP? K7? E até... CD? Revista de música? Jornal? Fanzine impressa? Se por um lado "perde-se" menos tempo para se chegar a uma música, a uma informação, por outro o tempo de "degustação", digamos assim, pode estar muito menor. Agora mesmo, no meu MP3, estou com mais de 500 músicas: +/- 24h de música. E quantas eu sei a letra?De quais bandas eu realmente conheço a trajetória? Se eu não lembrar o quanto essas informações eram importantes para mim há 10 anos atrás, vou ficar ouvindo sem escutar.. se eu não tivesse me tocado o quanto não estava prestando atenção no meu tempo dedicado para a música, mais seria cada vez menos...
E você, como lida com seu tempo?
4 comentários:
Linde,
Amo a história de Alice e este louco país das maravilhas!
Esse trecho do gato também é um dos meus favoritos. Mas acredito que aqui, mais do que a questão do tempo, fica a questão da falta de direção que temos. Queremos ir, mas não sabemos exatamente pra onde. Isso me lembra um mote do Gil nos anos 70: "Se Oriente, rapaz."
PS.: Cada vez gosto mais do que você coloca no seu blog.
Beijos!
Mas falta de direção no tempo e no espaço são bem correlatos, não? =p
Bj, tia, e que bom que está gostando do meu blog... =)
Alinde sinto que a internet é um bichinho que se você deixar ele te suga pra dentro do monitor e só te solta quando acabar a energia elétrica. Com as várias opções de entretenimento "rápido" fica cda vez mais fácil gastar o tempo sem percebê-lo. Hoje faço questão de separar um tempo pra rede, um pros livros e outro pra familia. É difícil, mas continuo tentando.
Um abraço.
...
uncetele
Do ponto de vista da Física, sem dúvida. Do ponto de vista da história de Alice vejo a questão do tempo, didaticamente, mais clara na figura do coelho. No caldo quântico de Alice tudo é uma coisa só.
(adoro essa conversa!)
Beijos, Linde!!!!
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