quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A Batalha do Apocalipse

abda

Livro: A Batalha do Apocalipse – Da Queda dos Anjos ao Crepúsculo do Mundo
Autor: Eduardo Spohr
Editora: Verus (Record)
Ano: 2010
Sinopse no Skoob:
Há muitos e muitos anos, há tantos anos quanto o número de estrelas no céu, o Paraíso Celeste foi palco de um terrível levante. Um grupo de anjos guerreiros, amantes da justiça e da liberdade, desafiou a tirania dos poderosos arcanjos, levantando armas contra seus opressores. Expulsos, os renegados foram forçados ao exílio, e condenados a vagar pelo mundo dos homens até o dia do Juízo Final.
Mas eis que chega o momento do Apocalipse, o tempo do ajuste de contas, o dia do despertar do Altíssimo. Único sobrevivente do expurgo, o líder dos renegados é convidado por Lúcifer, o Arcanjo Negro, a se juntar às suas legiões na batalha do Armagedon, o embate final entre o Céu e o Inferno, a guerra que decidirá não só o destino do mundo, mas o futuro do universo.
Das ruínas da Babilônia ao esplendor do Império Romano; das vastas planícies da China aos gelados castelos da Inglaterra medieval. A Batalha do Apocalipse não é apenas uma viagem pela história humana, mas é também uma jornada de conhecimento, um épico empolgante, cheio de lutas heróicas, magia, romance e suspense.
Confesso que quando li a sinopse, ela não me causou uma boa impressão. Podia ser apenas mais uma história de seres sobrenaturais, acompanhando a atual moda literária. Eu queria ler, mas estava sem disposição para gastar meu dinheiro num livro que podia ser um clichê puro, modinha-de-internet e nada mais. Qual a solução para meu dilema? Participar de uma promoção na internet, claro. E aí tive uma dupla sorte: descobri um ótimo blog nerd – o Nerdbox - e também um ótimo livro.
Não sei se já deixei claro, mas o meu estilo preferido de literatura é aquele em que me impulsiona para ler ainda mais. Um livro que contenha referências (de preferência não muito óbvias) a outros livros e a outras culturas me fascina. E o Eduardo Spohr foi um mestre nesse aspecto: Ablon, o protagonista, percorre da China antiga até o Rio de Janeiro do século XXI. Foram visitadas diferentes culturas em diferentes temporalidades e todas foram mostradas de forma a instigar mais buscas por conhecimentos dessas culturas. Spohr já começa com um ponto positivo.
Vamos ao par romântico de Ablon: a feiticeira Shamira. Outra ótima oportunidade do Spohr escorregar: um anjo apaixonado por uma feiticeira. Mas, nem assim ele errou: a história deles não é melosa, e a Shamira…. bem, eu adorei a Shamira. Spohr desenvolve muito bem os personagens, e a Shamira é um ótimo exemplo. Já ouvi dois podcasts sobre o livro, entrevistas com o próprio. Ele sempre ressalta a importância do elemento feminino para o desenvolvimento do protagonista masculino nas suas falas, e ele desenvolveu muito bem essa importância na sua história. E sem esquecer o próprio desenvolvimento da Shamira, independente da sua “função” na história do Ablon.
Como pode-se ler no título e na sinopse, a história principal se passa no Apocalipse. Mas sim, a Babel lendária, a China antiga, aparecem: são capítulos de flashback em que se mostram os desenvolvimentos dos personagens e dos seus conflitos através da História. Como li por aí, alguns se embananaram com esses flashbacks, chegando a quase perder o fio da meada. Pra mim, esses flashbacks contém algumas das melhores passagens do livro, cheguei quase a lamentar o fim de cada um deles. E cada um dos flashbacks é necessário para o entendimento final dos personagens – além de serem leituras deliciosas (e eu amar ficção histórica).
Por fim, os anjos. Fantásticos, todos. Os vilões inclusive. Bem construídos, bem diferenciados dos humanos. Não sou escritora, e não pretendo ser. Mas deve ser bem difícil diferenciar raças diferentes, cada uma com uma forma de encarar o mundo. E Spohr faz isso muito bem: homens e anjos, cada um com suas características, são bem delineados. E, sendo uma história focada nos anjos, a diferença entre eles é gritante, cada um com um desenvolvimento e com personalidade próprios. A diferença de perspectivas que são geradas pela mortalidade dos homens e imortalidade dos anjos é muito bem feita.
Por fim, a parte chatinha. Não chega a ser um trecho chato. Mas é uma chatice repetida no livro inteiro. Todos os personagens tem codinomes e frases que o caracterizam, e o que aparece em todo o livro? Esses codinomes. Quem leu Odisséia, ou 1001 noites, ou alguma dessas narrativas em que os codinomes são repetidos à exaustão, sabe do que estou falando. Encheu o saco. Quando se pensa numa narrativa em que tem como ponto de partida a tradição oral ainda vai, a repetição dos codinomes pode ser um recurso tanto para quem narra como para quem ouve. Mas num livro escrito no século XXI isso encheu.