quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Tudo acontece em Elizabethtown


Drew - Você é ótima Claire. Você sabe disso. É incrível.
Claire – Por favor. Não preciso de sorvete de casquinha.
Drew – Não é sorvete de casquinha. O que é “sorvete de casquinha”?
Claire – Você sabe. “Algo para deixá-lo contente. Algo doce que derrete em cinco minutos. Eu me sinto bem com tudo que diga ou não diga. Eu não preciso disso.
Eu amo esse diálogo. Ele traduz o que sempre achei de elogios baratos, mas não sabia bem como expressar. Até chegar a esse diálogo, estava apenas assistindo a uma comédia romântica numa tarde de final de semana. Um filme bobo, sobre um cara de Oregon que perde seu pai e vai a uma pequena cidade em Kentuck – a Elizabethtown do título – pra resolver a burocracia relacionada ao enterro. Pra piorar a sua situação,esse cara, designer, acaba de perder o emprego por conta de um fiasco fenomenal e a namorada. No avião, conhece a Claire, uma aeromoça. Pronto, essa é a sinopse.
Daí eu estava vendo e pensando: por que não terminar de ver? Tô sem fazer nada de especial mesmo… e chega esse diálogo, dando voz a algo meu que não conseguia expressar bem. Nunca fui muito fã de receber elogios: é realmente raro ficar lisonjeada com um. Não por ter a melhor auto-estima do mundo, mas porque elogios bobos realmente não fazem diferença. Nunca fizeram. São poucos os elogios que guardo com carinho – justamente os que não espero o que a pessoa disse ou a forma como disse. Daí o diálogo é uma ótima resposta a todos os que falaram “você não gosta de receber elogios??Como não??” na minha vida – e tive que ouvir isso algumas vezes.Voltando ao filme, depois desse diálogo passei a prestar mais atenção no filme.
Apesar do protagonista ser um homem – o Drew, interpretado pelo Orlando Bloom – o ponto alto do filme são as mulheres: a Claire (seu par), a mãe do Drew (Susan Sarandon), a irmã dele. Especialmente a Claire e a mãe dele. Sendo uma comédia romântica, claro que se sabe o final desde o encontro do casal protagonista. E adoro o filme não pelo final, mas pelo desenvolvimento.
Desenvolvimento que, resumido, não tem como ser dado como ótimo. A melhor forma de definir a história, pra além de comédia romântica, é que é uma história sobre uma jornada, jornada para o auto-conhecimento do protagonista. Com direito a um longo trecho de road-movie. E o melhor de histórias sobre jornadas não são sobre o final, nem o resumo delas: são os desafios e histórias acontecidas durante a jornada. São trechos difíceis de comentar sem estragar todo o filme para quem não viu.
Durante essa jornada do protagonista, a presença da Claire e da mãe, além da sua viagem de carro com as cinzas do pai, são os pontos mais altos. A Claire é fantástica: observadora, adora as coisas simples da vida (como música, árvores, nascer do sol). Mais não digo pra ainda ter surpresas pra quem não viu, mas ela dá um presente FO-DA pro Drew, no final do filme. Algo que me deu vontade de fazer, daquele mesmo jeito. A mãe dele, interpretada pela Susan Sarandon? Aparece pouco, mas eu adorei. Fica viúva e o que faz? Vai cuidar da vida dela. De um jeito que eu pensei: acho que vou ser assim daqui a alguns anos… E, no final da jornada, a road-trip: linda linda, com uma ótima trilha sonora, do Kentuck a Memphis (e um pouco mais). Literalmente uma viagem musical, com passagens pela primeira gravadora do Elvis, por exemplo. Além, claro, das auto-descobertas do Drew.
Por ser uma comédia romântica, tem os clichês: os trechos de comédia em que digo “era pra ser engraçado?”; a separação temporária dos protagonistas. Passando-se numa pequena cidade do sul dos EUA, o estranhamento com os caipiras. Diálogos tem sua maioria sem muita substância.
Mas e daí? Mesmo com todos esses clichês, adoro o filme, e o vi hoje na cópia do meu DVD. Mas por que comprar um filme bobo desses? Foi o que o Marcelo disse quando eu falei que tinha comprado, e fiquei sem resposta até hoje. Hoje, que acordei com uma vontade danada de rever o diálogo acima. Querendo rever a road-trip do Drew. E querendo matar a saudade da Claire e da Hollie. Então revi, e fiquei feliz: era isso mesmo que eu tinha em mente, um filme que valoriza as melhores coisas da vida (música, natureza,amizades…), pra ver. Algo que me toca por uma simples razão: sou uma pessoa simples, que gosta de coisas simples, e que aprecia histórias sobre jornadas (pois que adoro pensar sobre a minha própria, e as dos outros). Um filme que me identifico, enfim.